Para quem ainda não sabe, a Oliveira Shoes está de site novo, de cara nova, lindão e… tem uma coluna minha no blog da marca! A coluna é semanal e é um espacinho pra eu dar algumas dicas, falar o que penso e tal (fiquem de olho!).
Pois bem, semana passada publiquei esse texto lá e fiquei com muita vontade de postar aqui, porque tem muito do que eu penso e muito do que eu passei nos últimos dias.
Estou ensaiando esse texto desde quinta-feira. Coloquei na cabeça que ia escrever sobre os últimos acontecimentos no país, mas confesso que não sabia como. Li tantas coisas, principalmente sobre teorias da conspiração, que já nem sabia o que pensar. Continuo atrás de informações, mas defini umas coisas na minha cabeça… um pouco.
Quinta-feira, 13 de junho.
Liberei minha equipe mais cedo da agência e tentei chegar em uma reunião. Por causa das ruas bloqueadas na Av. Paulista por policiais, o trânsito era absurdo e eu demorei muito tempo para conseguir dar a volta no quarteirão. A reunião ficou pro outro dia e eu fui direto pra casa.
Cheguei em casa reclamando da manifestação e de como estavam atrapalhando a minha vida. Morro de vergonha disso, mas aconteceu. Sentei para trabalhar e recebo um sms, de uma amiga: “Gabi, vc já saiu da agência? Tá rolando bomba na Paulista”. Oi? Bomba? Abri o facebook e twitter atrás de informações… Chorei! Chorei muito e fiquei com muita vergonha de mim, da minha falta de informação e com muita vergonha desse país. Li relatos de pessoas extremamente feridas pelas balas de borracha, vi fotos de amigos machucados, vi vídeos impressionantes. Não consegui dormir essa noite. Ficava pensando “como eu podia estar em casa se tanta gente estava lutando por algo que também era pra mim?!”, “como eu podia reclamar de uma manifestação que está protestando pelos meus direitos?”. Minha vontade era ir pra rua, pra dar minha cara a tapa também. Poxa, eu queria o que aquele pessoal estava defendendo, também era um interesse meu!
Segunda-feira, 17 de junho.
Acordei super empolgada. Os últimos dias serviram para despertar um lado conformado, acostumado com o sistema e o governo. Participei de debates, chats, li muito o assunto e decidi ir pra rua. Sai da agência às 17h30, com alguns amigos, descemos até a Faria Lima a pé (era impossível entrar no metrô), dispostos a participar do 5º Ato contra o aumento da passagem. E, eu sei que vocês já cansaram de ouvir isso, mas ali, pra mim, não era pelos 0,20 centavos realmente. O aumento da passagem era a causa, mas ele era só a gota d`água. Todo mundo que estava ali tinha perdido a paciência. Fui pra rua porque queria a mudança, queria um transporte público melhor e queria (e quero!) tantas outras coisas.
E ali, no meio de uma multidão, eu vi um monte de gente que também estava cansada e tinha perdido a paciência. Tinha gente de tudo quanto é jeito, idade, cor, sexo, classe social, profissão e partido. Tinha um monte de gente unida por um ideal. Foi incrível!
Enquanto andávamos pela Berrini, recebemos notícias de Belo Horizonte, Brasília e Rio… O país estava se mexendo!
Terça-feira, 18 de junho.
Não existia outro assunto. E, na minha opinião, a manifestação já tinha cumprido um grande papel: trouxe uma consciência política para a nossa geração que nunca existiu. Assim, ok, eu sei que existe grupos de jovens engajados desde sempre no país (trabalho na Paulista, vejo manifestações pelo menos umas 2x por semana), mas quantos % eles representavam? Quantas pessoas eles atingiam? Os 0,20 centavos fizeram centenas de milhares de pessoas se mobilizarem, falarem sobre o assunto, discutirem ideais e, principalmente, se juntarem. Parecia que todo mundo estava mais sociável, mais educado e mais cidadão.
Novamente fui para a rua, mas dessa vez eu vi a coisa ficando feia.
A polícia chegou chegando e colocou todo mundo pra correr da pior forma possível. Com a repressão e toda raiva guardada por anos e anos, algumas pessoas perderam a cabeça e a avenida ficou parecendo um capo de batalha. E eu vi muita gente, que apoiava o movimento, mudar de opinião, chamar o protesto de “bagunça” e manifestantes de vândalos. Era isso que eles queriam. Queriam mostrar pra quem estava em casa que aquilo ali não passava de baderna e qua deviam temer a manifestação. E isso aconteceu.
Quarta-feira, 19 de junho.
Aqui em São Paulo o prefeito e governador anunciam a redução dos 0,20. A tarifa voltou ao que era. Vencemos a primeira batalha. Mas aquilo era motivo de comemoração? Não. Naquele momento a gente estava tão insatisfeito, com tanta coisa, que não conseguimos ficar felizes. No máximo ficamos um pouco esperançosos, poxa, lutamos por uma coisa e conseguimos. E o resto?
Quinta e os últimos dias…
As manifestações continuaram (e eu continuei indo pra rua!), mas estava tudo muito estranho. Várias pessoas estavam desanimadas, falando que não existia mais um foco (mas não eram vcs que falavam que “não era só pelos 0,20 centavos?”) e tantas outras já chamavam o protesto de festa. Também vi muta gente com medo de um “golpe” (tanta que até cogitei essa hipótese), como em 1964.
Calmaí! O gigante acordou e vai dormir de novo? Vai simplesmente falar “ah, tá ruim, mas a gente não tem um foco”? Que fogo de palha é esse?
Eu acho que o Brasil está bem ruim como está e quero fazer a minha parte. Pode não significar muito, mas depois de passar tanto tempo com a bunda no sofá, eu não consigo sentar de novo. Agora é a hora de tomar partido (vamos lá, né pessoal?! Sem utopias, tem que ter partido sim e temos que respeitar a opinião dos outros, democracia, lembram?), de continuar na rua, mas principalmente, é hora de se informar. Aceitar todos os eventos de protesto do facebook não é o melhor caminho, acredite. Pesquise antes sobre quem criou, o que aquele pessoal defende e quais são os seus objetivos. Discuta as mudanças, se reuna com seus amigos e falem sobre política, conversem com seus pais, familiares e colegas de trabalho, escute o que os outros tem a dizer e lute por algo que VC acredita. Vá pra rua para gritar por uma ideia que vc defende ou para reivindicar um interesse que também é seu! Vá pra rua buscar informação, conversar com gente que sabe mais que vc e faça parte disso! Deixe o mimimi e suas teorias da conspiração de lado, mude e faça parte da mudança! Estamos construindo um país novo. EU ACREDITO!
UPTADE!
Para quem dizia que “protesto sem líder para negociar não chega a lugar nenhum”, em duas semanas os manifestantes conseguiram: 1) redução das tarifas do transporte público e eliminação dos impostos sobre ele, 2) eliminação do 14o e 15o salário dos deputados e senadores, 3) uma proposta de plebiscito para reforma política, 4) derrubada da PEC 37, 5) transformação da corrupção em crime hediondo (aprovada no Senado, segue para a Câmara), 6) cancelamento do recesso parlamentar em julho, 7) primeira ordem de prisão pelo STF a um deputado federal, por desvio de verbas públicas, desde a Constituição de 1988… E essa lista vai crescer! Continuem com a faca no pescoço do Congresso, galera.
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